Toda história é contada a partir de um determinado ponto de vista, e quem a conta ao leitor é o narrador – que pode ser um personagem ou apenas um observador do que está acontecendo.
É importante não confundir o narrador com o autor, já que este é uma pessoa real, que escreveu a história a partir do ponto de vista do narrador.
Existem dois focos narrativos para contar histórias: primeira ou terceira pessoa. No artigo de hoje nós vamos te apresentar as características de cada um dos tipos, assim, ficará mais fácil escolher o melhor estilo de narrador quando for escrever sua próxima história. Confira!
Foco Narrativo
Uma mesma história pode ser contada a partir de diferentes pontos de vista. O narrador pode ser um personagem que faz parte da trama e, assim, consegue expor a sua versão dos fatos; ou pode ser alguém que está do lado de fora, apenas observando os acontecimentos.
Escolher o foco narrativo deve ser umas das primeiras preocupações do autor, pois a escolha da perspectiva guiará os rumos da narrativa e influenciará na maneira como a história será contada – definindo estrutura, sentimentos, opiniões e muito mais.
A narrativa pode ser feita em primeira ou terceira pessoa, dependendo se o narrador é alguém que participa ativamente dos fatos ou se apenas os assiste. Estando de fora, ele pode ou não emitir opiniões, pode até mesmo conhecer os sentimentos dos personagens e saber o que eles pensam. Ele é o responsável por contar ao leitor todas essas informações sobre a trama.
Para definir se o foco narrativo de sua história será contado em primeira ou terceira pessoa, você precisa responder às seguintes perguntas:
- Quem está contando a história?
- Qual a posição ou ângulo de quem conta a história?
- Qual o nível de distanciamento entre o narrador e o leitor?
- Quais os canais de informação que o narrador conhece e utiliza para contar a história?
Depois de definir o foco narrativo e a estrutura da história, é chegada a hora de escolher o tipo de narrador que melhor irá contá-la.
Tipos de narrador
Existem três principais tipos de narrador: o personagem, o observador e o onisciente. E dentro de cada tipo existem subdivisões que marcam o estilo da narrativa, dando ainda mais personalidade ao texto. Veja só:
- Narrador personagem
É um narrador que conta os fatos em primeira pessoa do singular, pois ele está participando dos acontecimentos narrados na história. Esse narrador mostra seu ponto de vista e revela suas emoções sobre o que está acontecendo. É um estilo de narração que gera maior conexão com o leitor, porém é limitado no sentido de que ele não conhece a fundo as emoções dos outros personagens e, por isso, sua visão é limitada.
Esse narrador pode ser dividido em:
- Narrador personagem protagonista: por ser o personagem principal da trama, possui relação íntima com a narrativa e seu ponto de vista é muito importante para a história;
- Narrador personagem testemunha: é um personagem secundário que conta a história de outra pessoa e possui relação próxima com ela. Nesse caso também existe uma parcialidade no ponto de vista narrado, pois o personagem conta a história e descreve o protagonista a partir de seu próprio olhar.
Esse tipo de narrador transforma o leitor em uma espécie de cúmplice, com quem compartilha suas impressões sobre os acontecimentos e demais personagens.
A seguir você confere um trecho de “Teto para Dois”, de Beth O’Leary:
“Acordo com a luz do sol, o que é muito mais agradável do que as pessoas fazem parecer. Não fechamos as cortinas ontem à noite. Viro de costas para a janela por instinto e percebo que o lado direito da cama está vazio.”
A história alterna a narrativa entre o ponto de vista dos dois protagonistas: Tiffy e Leon. No trecho acima, temos a visão de Tiffy, acompanhada de suas sensações e pensamentos.
- Narrador observador
É um narrador em terceira pessoa que conta apenas o que vê: ele não participa da história e tampouco tem conhecimento total sobre os fatos ou o que se passa com os personagens em termos de emoções, anseios e pensamentos.
Sua narrativa é imparcial e objetiva. Tem poucos detalhes e é comum que prevaleça uma neutralidade na forma como conta os acontecimentos, uma vez que não possui intimidade ou conexão emocional com os personagens.
A seguir você confere um trecho de “E se fosse verdade”, de Marc Levy:
“Arthur acionou o controle remoto do portão da garagem e estacionou o carro. Tomou a escada interna e se dirigiu a seu novo apartamento. Empurrou a porta com o pé, largou a pasta que carregava, tirou o sobretudo e se jogou no sofá (…).”
O narrador apenas conta os fatos que observa, sem acrescentar muito sobre como o personagem se sente ou o que pensa. É uma narrativa mais objetiva e direta.
- Narrador onisciente
É um narrador em terceira pessoa e que tem total conhecimento sobre os fatos e personagens. Diferente do narrador observador, ele conhece o passado, o presente e o futuro dos personagens, bem como seus pensamentos e sentimentos.
Por isso, esse tipo de narrador nos oferece uma visão muito mais ampla e íntima dos acontecimentos, proporcionando uma riqueza de detalhes muito maior ao leitor.
É muito comum encontrar narradores oniscientes em romances, e há momentos, inclusive, em que a voz do narrador pode se confundir com a dos personagens, já que ele conhece tudo nos mínimos detalhes.
Esse narrador pode ser dividido em:
- Narrador onisciente neutro: conhece intimamente os personagens, sabe de suas emoções e pensamentos, mas procura agir de forma neutra, sem intenção de influenciar o leitor;
- Narrador onisciente intruso ou seletivo: também conhece a fundo os personagens, sabendo quais são suas emoções e pensamentos e acrescentando ao leitor sua própria opinião a respeito dos acontecimentos, induzindo-o a concordar com ele.
A seguir você confere um trecho de “Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen
“Dentro de pouco tempo já sabia a carta de Mr. Darcy quase de cor. Estudava cada frase, e os seus sentimentos para com o missivista variavam frequentemente. Quando se lembrava do seu estilo, ficava cheia de indignação, mas quando considerava a injustiça com que o tinha condenado e tratado, a sua cólera se voltava contra si mesma. Enquanto o desapontamento que ele tinha sofrido o tornava objeto de sua compaixão, o afeto de Mr. Darcy despertava a sua gratidão, e o caráter dele, respeito. Mas Elizabeth não podia concordar com o que tinha feito.”
Além de contar os fatos, o narrador revela ao leitor todos os pensamentos da protagonista, assim como seus sentimentos em relação aos outros personagens. É possível perceber que ele conhece muito mais do que um simples observador da história.
Escolhendo o narrador ideal para sua história
É importante deixar claro que não existe regra! Como autor, você deve decidir qual é a melhor forma de contar sua história, o quanto gostaria de revelar para o leitor e de que maneira. Procure encontrar o tom de voz do seu narrador.
Antes de começar a escrever, considere essas características:
Tome cuidado para não se perder e mudar o foco narrativo no meio da história, isso confunde o leitor e atrapalha o desenvolvimento da narrativa.
Se desejar, pode alternar os pontos de vista – esse recurso possibilita contar mais detalhes sobre a sua história, mas de forma clara e coesa. Para isso, mude o narrador e o ponto de vista entre diferentes personagens a cada capítulo ou trecho do texto.
Para ter o seu conto publicado aqui na Revista Maçã do Amor, fique de olho e acompanhe os editais. Nossa única regra é: nosso tema é o amor romântico! Então seja criativo na escolha do foco narrativo e conte uma história de amor que faça os leitores se apaixonarem.